sexta-feira, 17 de fevereiro de 2017

Assistência: que bicho é esse e por que é importante?

O cruzamento de Gustavo que resultou no segundo gol do Avaí contra a Desportiva, marcado por Rômulo, foi assistência? E o passe de Capa no lance do primeiro gol do Avaí contra a Chapecoense, feito pelo mesmo Rômulo? Foi? Não foi? Afinal, o que é uma assistência? Vamos falar um pouco sobre isso.

O conceito de "assistência" é mais consolidado em esportes americanos, principalmente basquete (NBA) e hóquei sobre o gelo (NHL), já que eles são fissurados por números lá (tá, nós deste site também somos). Em resumo bem resumido, é um passe que permite a um companheiro de time marcar o ponto (cesta, gol, enfim). Apenas recentemente começou a ganhar importância e espaço nas estatísticas do futebol brasileiro. Mas por que contar assistências, se o que importa são pontos, que são os gols, no caso do futebol? Porque elas ajudam a mostrar o quanto um jogador contribui com a produção ofensiva do time.

Vamos pegar o basquete como exemplo. Numa comparação simples entre pontos marcados, Michael Jordan (média de 30 pontos por jogo na carreira, a mais alta da história da NBA) parece muito mais jogador ofensivamente que Magic Johnson (19 pontos por jogo). No entanto, Magic teve uma média de 11 assistências por partida em sua carreira (a mais alta da história da NBA), enquanto Jordan teve média de 5 assistências. Fazendo uma conta simples de que cada assistência equivaleu a uma cesta de dois pontos (nem sempre. Há as cestas de três. Mas vamos ignorá-las), Magic Johnson participava de aproximadamente 41 pontos de seu time por jogo (marcando 19 e dando passes para outros 22), enquanto Michael Jordan contribuía com cerca de 40 pontos (marcando 30 e dando passes para 10). E aí? Quem era melhor ofensivamente? Dá pra discutir, né?

Enquanto Jordan era o cestinha (seria o "artilheiro" no futebol), Magic era o playmaker, ou criador de jogadas. Ambos desempenhando papeis diferentes e importantes no ataque. Mensurar o quanto um jogador é cestinha, ou artilheiro, é fácil, pois uma cesta é uma cesta e um gol é um gol e ou o cara fez gol, ou não fez. Mas a estatística de gols marcados não serve pra medir o quão eficiente um playmaker é. Zidane fez 125 gols na carreira, o que é pouco, se comparado com Pelé, Messi, Romário, ou mesmo meias como Zico e Maradona. Mas quantos gols ele deu de bandeja para os atacantes de seu time, com assistências?

Graças à contagem de assistências, descobrimos que Rômulo e Marquinhos participaram do mesmo número de gols na arrancada do Avaí na Série B passada (oito gols cada), embora o primeiro tenha marcado sete, e o segundo, "apenas" três. Saber que, marcando ou passando, cada um contribuiu diretamente com oito gols dá uma ideia melhor da importância de ambos na produção ofensiva do Leão, não é mesmo?

Mas há um problema com a estatística sobre assistências, que não é exclusivo da contagem delas no futebol: a subjetividade. O que é assistência para um observador, pode não ser para outro. É assim no hóquei, é assim no basquete e é assim - talvez até mais - no futebol. No basquete, um passe meio quadrado, mas que o companheiro de time consegue dominar e arremessar de longe, marcando uma cesta de três pontos, é uma assistência? E, no futebol, um cruzamento no qual o lateral nem olhou para a área, apenas lançou a bola nela, mas que o centroavante aproveitou, depois de zagueiro rabar em bola? Vale como assistência? Não vale?

Quando se conta assistências, sempre haverá a subjetividade, pois às vezes é difícil definir se o passador teve a intenção de passar para aquele companheiro que fez o gol (pense num escanteio. O batedor pode ter mirado em um companheiro, mas outro, que estava perto, conseguiu se antecipar e cabecear pro gol), ou mesmo o quanto o passe contribuiu para o gol.

Gustavo aparentemente cruzou para Diego Jardel, mas este não alcançou a bola e Rômulo apareceu logo atrás dele para marcar contra a Desportiva. Como não podemos entrar na cabeça de Gustavo para saber se ele queria cruzar para Jardel ou para Rômulo, consideramos assistência, pois, bem ou mal, o cruzamento deixou Rômulo em ótimas condições de marcar o gol, perto da pequena área e precisando apenas dominar e chutar.

Contra a Chapecoense, Capa tocou a bola para Rômulo longe do gol, de costas para o goleiro e com marcação em cima, mas o atacante conseguiu fazer o gol com apenas dois toques na bola, dominando e chutando já perto da linha da grande área. Para os camaradas do Troféu Avaí, foi assistência. Para nós, não. Consideramos mais mérito de Rômulo, que conseguiu girar e chutar no canto mesmo estando longe do gol, que do passe do Capa. Quem está certo? Os dois. Quem está errado? Ninguém. Vai do que cada um considera o que é assistência.

Felizmente, esses casos de dúvida são a minoria e, na maior parte das vezes, fica bem evidente o que os antigos narradores chamavam de passe açucarado que deixa o atacante em condições de marcar, ou o cruzamento certinho para o cabeceador testar para o gol.

Ah, importante! Assistência só é contada, seja no basquete ou no futebol, quando o ponto é marcado. Se o atacante perde o gol ou erra a cesta, azar do playmaker. Acha injusto? Imagine o rolo que seria definir se o gol foi perdido porque o passe não foi muito bom, ou por erro do atacante, e se aquilo valeria ou não como assistência. A subjetividade seria muito maior.

Nesse caso, a compensação para o bom passador, que vive deixando seus companheiros na cara do gol (mesmo que eles percam os gols em um ou outro jogo) é que, ao se analisar o acumulado de partidas, é provável que mais gols saiam de passes seus que de outro jogador que eventualmente pode ter acertado um único bom passe num jogo e permitido ao atacante marcar. Ou, traduzindo: embora hoje o Gustavo tenha mais assistências que o Marquinhos em 2017 (1x0), até o fim do ano o mano mais velho deve virar esse jogo. Não certamente, mas provavelmente.

Nenhum comentário:

Postar um comentário