sexta-feira, 10 de março de 2017

Breve análise sobre o público na Ressacada em 2017

Com a primeira semana inteirinha sem jogos, ganhamos um tempinho para fazer pesquisas um pouco mais aprofundadas. No post de hoje, vamos falar sobre público presente aos jogos do Avaí em 2017.

Em sete partidas disputadas na Ressacada neste ano, o Avaí teve, em média, 5.157 pagantes presentes por jogo. Isso representa uma lotação - considerando apenas os pagantes - de 28,9% do estádio, segundo a capacidade anunciada no site do clube (17.822 torcedores). Olhando esse dado pelo outro lado, significa que o Avaí opera com ociosidade de aproximadamente 70% de seu estádio (arredondamos considerando que há espaços ocupados por não-pagantes), um valor absurdamente alto quando comparado com as principais ligas do mundo, mas relativamente (e infelizmente) "dentro do normal" para o padrão brasileiro.

O público pagante dos jogos variou de 1.615 contra o Londrina pela Copa Que Ninguém Liga da Primeira Liga a 10.797 contra o Figueirense pelo Campeonato Catarinense. O gráfico 1, abaixo, mostra  a distribuição dos públicos do Avaí no ano. Percebe-se que, além do clássico, as partidas contra Chapecoense (outro representante catarinense na Série A do Brasileiro) e Brusque (até então, vice-líder do estadual) ficaram acima da média do clube em termos de público. Nos demais, públicos  nada satisfatórios.

Gráfico 1. Distribuição do público pagante por jogo na Ressacada em 2017.

A maior parte do público pagante que frequenta os jogos do Avaí é formada por sócios do clube. São 3.588 sócios, em média, por partida, dos quais 3.584 sócios "normais" e 4 (quatro. Não lesse errado, não.) da modalidade "Nação Avaiana", na qual se paga uma mensalidade de R$ 30 para se ter desconto de 60% no preço de ingressos. Os sócios representaram, até o momento, 69,6% dos pagantes nos jogos do Avaí, o que mostra a importância desse público cativo para as contas do clube.

O jogo com mais sócios presentes foi o clássico contra o Figueirense (6.025), enquanto a partida contra o Londrina teve apenas 1.381 sócios.

O peso dos sócios diminui, porém, à medida que o público pagante total aumenta. Há uma correlação negativa muito forte (-0,95) entre o total de pagantes e o percentual de sócios entre esse público. Basta ver que as três partidas com mais torcedores tiveram, em média, 62,1% de sócios, enquanto as quatro de pior público ficaram com média de 85,1% de sócios entre os presentes. O jogo com maior proporção de sócios entre os pagantes (87,1%) foi contra o Luverdense, enquanto o clássico contra o Figueirense, recorde de público do Avaí no ano, teve o menor percentual de sócios (55,8%).

Gráfico 2. Percentual de sócios do Avaí entre o público pagante por jogo na Ressacada.

É claro que a presença de torcida visitante também colabora para esse fenômeno. Não é coincidência que os jogos contra Brusque, Chapecoense e Figueirense tiveram a maior presença de visitantes, pelo que observamos nos jogos (não há dados separados nos borderôs sobre ingressos vendidos para visitantes), e a menor proporção de sócios do Avaí entre o público presente. No entanto, os dados mostram também que são nesses jogos mais atrativos que o clube pode faturar mais com venda de ingressos, pois o público comprador de ingresso fica em torno de 35% a 45% do total, contra 15% a 20% nas partidas menos atrativas.

Toda a comunicação avaiana é feita pensando em angariar sócios e tem até quem ache que só sócio pode dar opinião sobre as coisas do clube, mas não se deve ignorar os torcedores que compram ingresso também. Afinal, em sete jogos, eles já desembolsaram R$ 350.500,00 para assistir o Avaí - e nós não estamos em condições de raigar dinheiro...

Quanto cada setor rende com ingressos

Nos borderôs dos jogos do Avaí, os oito setores da Ressacada estão divididos, em geral, em dois grandes grupos: ACDE (os setores cobertos) e BFGH (os descobertos). Os dados sobre a ocupação desses setores são referentes apenas a ingressos vendidos. O item "Sócios" (ou "Sócios+Credenciais", como aparece em vários borderôs) não tem a discriminação por setor. Não é possível saber, portanto, quantos sócios comparecem a cada setor do estádio em cada partida.. O mesmo vale para os menores de 12 anos, que pagam R$ 10,00 por jogo e vêm informados no borderô em item único, sem separação por setores.

Vamos nos ater, então, sobre os ingressos vendidos para cada setor. Consideramos, nos casos dos setores cobertos, também a parte "VIP" dos setores C e E, cujas entradas vendidas vêm discriminadas nos borderôs. A conta inclui tanto valores inteiros como meias entradas.

Foram 11.011 ingressos vendidos até agora. Em média, o Avaí vende 775 ingressos para os setores cobertos por jogo e 617 para os setores descobertos. É curioso, pois os setores descobertos têm ingressos sempre mais baratos, mas, talvez, ainda num preço que o torcedor considera elevado demais para valer a pena pagar por ele.

Gráfico 3. Divisão do público pagante conforme o tipo de entrada vendida (ingressos e sócios).

O valor médio do ingresso vendido nos setores cobertos foi de R$ 36,79, enquanto nos descobertos ficou em R$ 31,88. Consequentemente, os setores cobertos geram renda maior por partida com ingressos (R$ 28.520,00) que os descobertos (R$ 19.678,57). Não é possível precisar quanto de renda o sócio gera por partida, pois é atribuído a cada sócio presente o valor simbólico de R$ 10, para efeitos de cálculo de descontos de impostos e taxas sobre a renda bruta da partida.

Aqui, cabe uma observação. A grande maioria dos ingressos vendidos (80,8%) é de meias entradas. Isso porque são consideradas meias entradas não só aquelas previstas por lei (como para estudantes, por exemplo), mas as promoções que o clube faz, do tipo "compre ingresso usando camisa do Avaí e pague metade do preço". Como os ingressos vendidos com preço inteiro foram apenas 7,7% do total, há forte indício de que os preços cobrados pela entrada inteira não condizem com o valor que o torcedor atribui ao serviço que Avaí está oferecendo.

Não podemos esquecer que futebol é paixão, mas, também, um serviço de entretenimento, e o torcedor compra conforme avalia a qualidade do "espetáculo" que lhe é oferecido, incluindo aí, não só a qualidade ou o desempenho do time do Avaí, mas também a atratividade do adversário (qualidade, notoriedade e rivalidade são atributos importantes) e da competição (fases finais e disputas que envolvem equipes mais qualificadas tendem a levar mais público ao estádio).

Considerações

Entendemos que, para melhorar a ocupação de seu estádio e a renda obtida por jogo, o Avaí deve avaliar se os preços cobrados pelos ingressos, principalmente dos setores descobertos, estão no nível adequado ao serviço de entretenimento que oferece. Também deve analisar os preços inteiros cobrados, pois a venda de ingressos nesses valores é muito pequena. Talvez o "meia entrada" deva ser o valor inteiro.

Com os dados que trouxemos, é possível, ainda, fazer um planejamento conforme o grau de atratividade esperado para cada partida. É esperado que jogos contra equipes como Atlético Tubarão e Almirante Barroso sejam vistos como pouco atrativos pelo torcedor avaiano, a não ser que o clube esteja disputando o título do returno. Sabe-se que, em partidas assim, a grande maioria do público presente ao estádio é composto por sócios. Pode-se, então, buscar alguma alternativa para vender mais ingressos nesse jogos, como o preço mais baixo ou realizar ações específicas voltadas aos consumidores eventuais.

Outra ação que pode ser tomada é tentar atrair mais famílias para os jogos. O número de menores presentes a cada jogo é relativamente pequeno (3,4% do total de pagantes), o que sugere pouca presença de famílias.

Mais adiante durante a temporada, faremos novas análises e atualizações sobre a presença de público na Ressacada em 2017.

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